sexta-feira, 18 de julho de 2008

Passarela

Estávamos ali ,todos juntos. Numa cidade nunca antes visitada.
O céu estava azul . O calor e luz do sol indicavam um horário ao redor do meio dia.
As nossas conversas estavam fluindo, mas havia um estado de tensão. Eu pressentia um acontecimento desfavorável. Sentia angústia, disfarçando com sorrisos e palavras que queriam mesmo era adiar aquele momento difícil. Minha atitude parecia perder a força a cada instante. Eu falava, eu tentava encontrar as mãos que sempre encontrei. Pouco a pouco, eu não as sentia mais. De entrelaces, passaram a toques escorregadios. Daí para pequenos esbarrões. E como se fosse busca em meio à escuridão, minhas mãos eram, no ar, movimentos aflitos, sem encontrar o toque desejado.
A aflição se avolumava também por estarmos em meio a uma multidão. Passantes , indiferentes, nada percebiam de nosso particular conflito e embaraço. Muitas eram as pessoas num frenético andar, falando muito. Todas aquelas vozes abafaram a minha e a dele. Nós não conseguíamos mais nos ouvir.
Bem do ponto em que paramos ,em diante, havia uma quilométrica e larga passarela de concreto, com muros que deviam passar de metro e meio. Não sei onde ela terminava, a que lugar ligava. Sem que eu esperasse, ele foi saindo de perto de nós e se afastou. Por algumas vezes o chamei. Mas ele não olhou para nós, não acenou, não disse adeus. Mas eu sabia que era o adeus. Seus cabelos que tinham alguns cachos grandes e sem pentear, brilhavam ao sol. Sua camisa de cor arroxeada estava meio surrada. Uma pequena mochila desbotada em um só ombro e toda aquela gente em volta.
A cada passo, a cada meio metro que ele avançava, indiferente e tranquilo, me conscientizava que minha voz não era mais atendida e emudeci. Também fui parando de me agitar. Meu corpo trêmulo estava estacionado ali, reconhecendo aquela única imagem, que se misturava a tantas e tantas pessoas , cores e formas.
A distância entre nós foi aumentando. Eu sentia angústia, tristeza e ódio. Minha impotência me torturou.
Mas mesmo assim continuei ali, segurei todo meu corpo, minha alma , meus filhos, minha vida.
Não sei viver a vida do outro. Só sei tentar entender, compreender, e até defender.
A última vez que o vi foi na grande curva da passarela de concreto. Não sei qual foi seu destino. Nem ao menos sei como estava seu rosto.