sábado, 27 de dezembro de 2008

O Bem da Quietude


Fim de linha.

Em vão. traguei meus piores pensamentos, meus maiores medos.

Pequei pelo excesso e pela omissão.

Pequei pela negação. Pela reação incompatível com a dimensão da tormenta que me abateu.

Tenho recursos, graças a Deus!!

Mas não sou insensível a palavras que estão aqui, cravadas como flechas em meu corpo.

Ainda não as removi.

Desconhecia muito do lugar que ocupava, do que significava minha pessoa e o triângulo formado por mim e meus filhos.

Estou procurando quietude, tomando consciência de tudo. Um processo trabalhado a passos lentos. Tem me exigido muito de auto-conhecimento, de frear meu lado impulsivo, de ponderar muito sobre o que cada um vive, como cada um de nós lida com o que pesa, com o que dói , com o que é difícil.

Preciso olhar de frente pra tudo que tenho, forçando os olhos a ficarem abertos! Não é possível virar o rosto, nem um pouquinho, pra aliviar. Preciso mergulhar na dor, no lamento, na essência. É preciso olhar para aquelas flechas e removê-las, com cuidado, sabendo que o que vem a seguir me fará chorar, gritar. Que por minhas mãos, o tamanho da ferida vai se mostrar . Tenho que encarar, sim. Mas só no momento certo, quando me sentir pronta.

Sofri e trabalhei duramente pra encontrar esse momento.

Não dá mais pra adiar.

sábado, 1 de novembro de 2008

O que carrego


Quando a porta abriu

vi que ali partiu

um desejo de vida.

Coração a mil...a milhão

mal assimilando a decisão

da qual não fiz parte.

Um adeus ausente, um descarte...

Dúvidas embaralhadas,

mil porquês desrespeitados,

deixaram subjugadas

alianças aparentemente entrelaçadas.

Uma mistura angustiante era tônica.

Um ato de desbravar, de se permitir

uma quase loucura.

Sorrisos querendo escapulir,

todo cuidado pra não se trair...

Se consumava uma ruptura

com ares de dor e bem-querer.

Grandes conquistas. Muito amor.

Muitas coisas desconhecidas

ficaram sem ser ditas.

Já me virei do avesso.

Já me entreguei ao despudor.

Já me feri com a raiva e a mágoa contidas.

A surpresa

a precipitação

o vazio

a saudade

a tristeza

a frustração

o sombrio

a verdade

a incerteza


De que é feita essa dor?

Luto a cada dia para descobrir. Sei que aí reside a clareira que talvez me faça respirar de novo. Depende de como vou estar quando chegar lá.





segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Chuva em mim


É tarde da noite. A chuva está quase passando.
Veio pela manhã e se nega a ir embora, persiste. Tento sentir seu delicioso cheiro o máximo de tempo, me debruço tentando alcançar a água fresca e finíssima. Gosto de fechar os olhos e deixar meu rosto sob aquela névoa molhada, geladinha. Um arrepio percorre minha nuca e viaja por todo meu corpo. Adoro essa sensação. Repito várias vezes esse ato, esfregando minha mão direita por trás das orelhas, cabelos, até os ombros. Deixo-me levar por essas ondas de arrepio até vir aquele calafrio inevitável. Fico mais um tempo ali, nesse quase abraço.
Começo a olhar mais atentamente para os fios de um poste a outro. Tenho uma visão linda dos pingos que ali ficaram, caprichosamente pendurados, equidistantes. Por cada ângulo que olho, os pinguinhos assumem uma cor e uma luminosidade. Verde, vermelho, laranja, branco. Um pisca-pisca natalino feito de água.
Durante uns minutos fico sentindo o friozinho e admirando aquela arte da natureza.
Querendo gravar em mim um momento que é capaz de harmonizar meus sentidos.

sábado, 11 de outubro de 2008

Um ponto para começar


Alma opaca

À procura do brilho, de um trilho

Gotinhas de fé

Podem me devolver o horizonte

Que meus olhos molhados

Demoram a enxergar.

Em algum lugar está a fonte

Que me fez ser quem eu sou

Com passos ainda acanhados

Estou tentando encontrar.

Existe uma energia

Uma emoção enorme

Pelo menos na minha gratidão.

O que falta no silêncio

Que há pouco tomou a minha vida

Sobra num outro lado

Que sem que eu esperasse

Tem me confortado.

Tem trazido mais do que um abraço

Mais do que um carinho.

Tem me mostrado que eu tenho um lugar

Que eu tenho um ponto por onde começar.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

MEU TEMPO

Tempo. Você está a meu favor ou contra mim? Não entendo vida só como passar as horas executando tarefas e relembrando todas as cenas vivdas até aqui. Um insistente repassar de todo esse painel. Tanta história...mas sempre lembranças.
Vejo a idade com olhar bem realista. Não é o findar, necessariamente. Mas é o reconhecer que alguns sonhos já tiveram sua época de investimento. Saber sair disso e olhar pra frente com consciência de expectativa é difícil pra mim. Agora. Por ora.
Não sei nada de viver, mesmo tendo nas costas uma bagagem de muitos aprendizados e experiências. O lado doloroso da vida é difícil, amargo e cruel, sim. Quem já não o experimentou? Mas aprender como enfrentá-lo é bem mais complexo do que eu sempre pensei. Para cada circunstância, vejo que meus conceitos anteriores quase não me servem. São desdobramentos infindáveis que se apresentam. Uma imagem que se assemelha a isso é me ver após a arrebentação num mar bravio. Mal a gente se recupera em fôlego e força de uma onda, não há tempo pra respirarmos mais algumas vezes. Somos atingidos por outra onda. Talvez maior, talvez mais turbulenta, mais violenta.
Estou me sentindo assim agora. Ainda não consigo respirar. Acho que nem é o momento, mesmo. Preciso de mim. Preciso me puxar. Preciso olhar pros escombros e pro que está de pé.
Tenho um amor guardado dentro de mim que não posso negociar. Só declarar. Só expor.
Não mereço mais essa melancolia. Esse estado de espera e de não enxergar, de estar só, à noite, num lugar desconhecido. Pisando em terreno instável, escutando vozes que não reconheço. Por outro lado, ouvindo expressões que me repelem e são velhas conhecidas.
Consigo identificar um lado fascinante nisso tudo . O de me sentir transigente. Quanto mais velha fico, mais ganhos tenho nesse aspecto. Todos somos capazes de derrubar convicções maiores que nossa vivência conhece. E dali pra frente, adotar as novas formas e conceitos, introjetá- los.
Quanto mais vivo, mais conheço essa minha capacidade.
Só sei que, um pouco encolhida, meio louca, ferida e sem medo de cair, vou enfrentar esse medo .
Parece que em cada cantinho vou descobrindo um motivo pra me assustar. Mas não volto mais atrás. Não consigo mais recuar. Vou sentir essa dor até o fim.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Passarela

Estávamos ali ,todos juntos. Numa cidade nunca antes visitada.
O céu estava azul . O calor e luz do sol indicavam um horário ao redor do meio dia.
As nossas conversas estavam fluindo, mas havia um estado de tensão. Eu pressentia um acontecimento desfavorável. Sentia angústia, disfarçando com sorrisos e palavras que queriam mesmo era adiar aquele momento difícil. Minha atitude parecia perder a força a cada instante. Eu falava, eu tentava encontrar as mãos que sempre encontrei. Pouco a pouco, eu não as sentia mais. De entrelaces, passaram a toques escorregadios. Daí para pequenos esbarrões. E como se fosse busca em meio à escuridão, minhas mãos eram, no ar, movimentos aflitos, sem encontrar o toque desejado.
A aflição se avolumava também por estarmos em meio a uma multidão. Passantes , indiferentes, nada percebiam de nosso particular conflito e embaraço. Muitas eram as pessoas num frenético andar, falando muito. Todas aquelas vozes abafaram a minha e a dele. Nós não conseguíamos mais nos ouvir.
Bem do ponto em que paramos ,em diante, havia uma quilométrica e larga passarela de concreto, com muros que deviam passar de metro e meio. Não sei onde ela terminava, a que lugar ligava. Sem que eu esperasse, ele foi saindo de perto de nós e se afastou. Por algumas vezes o chamei. Mas ele não olhou para nós, não acenou, não disse adeus. Mas eu sabia que era o adeus. Seus cabelos que tinham alguns cachos grandes e sem pentear, brilhavam ao sol. Sua camisa de cor arroxeada estava meio surrada. Uma pequena mochila desbotada em um só ombro e toda aquela gente em volta.
A cada passo, a cada meio metro que ele avançava, indiferente e tranquilo, me conscientizava que minha voz não era mais atendida e emudeci. Também fui parando de me agitar. Meu corpo trêmulo estava estacionado ali, reconhecendo aquela única imagem, que se misturava a tantas e tantas pessoas , cores e formas.
A distância entre nós foi aumentando. Eu sentia angústia, tristeza e ódio. Minha impotência me torturou.
Mas mesmo assim continuei ali, segurei todo meu corpo, minha alma , meus filhos, minha vida.
Não sei viver a vida do outro. Só sei tentar entender, compreender, e até defender.
A última vez que o vi foi na grande curva da passarela de concreto. Não sei qual foi seu destino. Nem ao menos sei como estava seu rosto.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Palavras


Frequentemente ouvimos que é saudável, relaxante, estimulante, pensarmos numa paisagem. A gente pode visualizar um lindo lugar, contendo inúmeros elementos que, de alguma forma, tragam paz de espírito. E aí a idéia é estacionar ali naquela imagem, congelar durante minutos seguidos. É difícil fazer isso. Todos dizem e eu já comprovei. A mente quer viajar. A dispersão é inevitável. Há muito tempo não consigo fazer esse exercício. Porque só sei pensar em palavras. Estou envolvida em milhões delas. Não sei me desvencilhar das que vêm vindo, muitas vezes. Quero evitar, brigo quando sinto a aproximação daquelas...daquelas que vão pro caminho certo de me derrubar, de promover o aperto no coração, o monte de lágrimas.

Tem aquelas que gostaria de ter dito. Por que não disse? O que custava? Ah, sei lá, talvez não tenha me lembrado, talvez não achasse que era a hora, talvez não tenha conseguido, simplesmente...admito que pode ter faltado coragem...aí vem as palavras da crítica. A auto-crítica gera palavras de justificativa.

Tem as lindas e felizes, que lembro e repito várias vezes, indo e voltando, saboreando. Um deleite e conforto necessários.


Tem as que geraram as maiores emoções da minha vida..só de lembrar já me arrepio! Essas são de chorar de felicidade! Sinto tanta gratidão por ter essas palavras pra me lembrar!


Das que me arrependo de ter dito tento tirar uma lição, tento usá-las como referências. Pode ser preciso me retratar´Então preciso ter essa humildade.


Mergulhada em tantas palavras que já disse e ouvi e nas que desejo imensamente dizer, só sei que sou uma pessoa assim. Valorizo muito as palavras. Adoro quando posso me expressar através delas e também admiro quem sabe fazê-lo. Confesso que não tenho o domínio que gostaria de ter, a habilidade de sempre acertar, o destemor que a vida impõe...então me contento com o que possuo: a naturalidade.


Durmo e acordo com elas. Há dias que elas me invadem violentamente. Eu me rendo, eu me esforço pra dar conta de tanto! Nem sempre consigo.


Nos momentos em que posso ter um convívio mais sereno, respiro melhor .


Entendo e não entendo o enredo da vida, sou vilã e heroína no uso das palavras.

A propósito, não sei que palavra usar pra terminar esse texto...

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Faltou dizer, pai!

Ao me despedir de meu pai hoje à tarde, beijei seu rosto e, ao abraçá-lo, ouvi bem de pertinho: "felicidades!". Até agora estou pensando naquele momento. Ele estava aniversariando e não ouviu de mim palavra que tivesse significado parecido. Disse o rotineiro parabéns quando cheguei. Pouco falei com ele, a propósito.
Enxerguei ali um homem de bastante idade ainda interessado em mim, no meu caminhar. Tenho um pai que desde sempre esteve conferindo a liberdade que me concedeu muito cedo. Acompanhando minha história, sem quase fazer barulho. Sempre aguardou o momento de intervir em inúmeras situações da minha vida. Procurou dar força, sem pressionar muito e criticar com bons argumentos. Nas divergências inevitáveis em alguns desses momentos, nunca se mostrou distante no carinho, pelo contrário. Eu sabia com toda clareza que o carinho estava ali, de braços dados com a pior das broncas. Houve o que eu não gostasse, por parte dele também, e até silenciamos um com o outro. Mas o desfecho era, sim, uma conversa, com disponibilidade, atenção.
Olho pra aquele homem tão mudado, envelhecido, carregando as marcas da sua idade, com muita gratidão.
Coleciono muitas lindas lembranças da minha vivência com ele, em todas as idades. Saber que sempre pude e posso contar com um pai, com esse pai, que sempre confiou em mim e em meus irmãos, que cumpriu seu papel dignamente, é para agradecer a Deus mesmo, eu sei.
A felicidade que ele me desejou na despedida me remeteu a sua própria presença.
Ao fato de ainda ter meu pai, de sabê-lo por aqui e ter consciência de que tenho que cuidar bem desse homem que sempre cuidou de mim.

sábado, 19 de janeiro de 2008

De volta

Fiquei surpresa ao rever agora meus inúmeros rascunhos . Comecei a pensar no momento que me sentava aqui pra escrevê-los. E senti de novo a mesma coisa. Então me lembrei . Brotavam juntas palavras e muitas lágrimas . Minha energia ia se apagando e eu era desencorajada. As idéias se desorganizavam e eu repetia a mesma letrinha, até que parava e pensava: "outro dia.... "mas muito tempo já se passou, desde o último texto esboçado, que não ganhou corpo... algo passou à frente do prazer ou necessidade de escrever. Não sei bem denominar.
Gosto de estar aqui. Gosto de falar do que sei de mim, de como enxergo a vida. De jogar ao vento algumas poucas percepções e, humildemente, me submeter a essa exposição.
Mas preciso também entender minha vontade de interiorizar, de introspecção. Preciso estar de acordo comigo mesma, dar a mão pra própria vontade e apoiar o que Deus apoiaria. Aprovar o que Deus aprovaria.