quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Alma e coração


Tenho muitas carências, não me envergonho por confessá-las. Sinto-me delicada demais perto de alguns, que considero muralhas. E sinto medo, muitas vezes, de ser atingida pelo reboco dessas muralhas. E sou.

Não adianta espernear, apelar pra emoção, não tem jeito.

Conheço a sensação de perder amigos. Não por morte, não por brigas, não por afastamento natural da vida, viagens. Mas por simples incapacidade de mantê-los. Um defeito antigo.

Ao longo da vida, fui aprendendo a dureza dessa experiência. Aos poucos, juntando maturidade e muita terapia, foi se revelando essa minha habilidade. Desde a minha primeira vivência até os dias de hoje, considero -me a mesma menina quando acontece. Porque dói muito, não consigo evitar. Começo a ter a minha crise de abstinência e entro em luto, de novo. Mais um tempo tentando admitir que dá pra seguir sem mais aquela pessoa. Mas durante aquele mau pedaço recorro a meu amor próprio e percebo que é pouco. A sensação de abandono não se abranda. Ainda me falta o entendimento necessário pra reformular, reelaborar modos de agir, sei lá.

É, tô lamentando, sim. Estou entristecida, sim, tô cansada dessas perdas e tô aqui buscando nesse espaço um pouquinho de força pra estar de pé amanhã e seguir em frente.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Sentir Deus


Há uma luz que se mostra, lenta, na minha frente. Caminhos que sinto serem apresentados, ainda sem sentido, sem coerência. Já aprendi que quase tudo de que espero coerência não produz satisfação, talvez eu ainda nã tenha enxergado as coisas com alma totalmente adulta.

Deus faz coisas mágicas acontecerem, a gente é que tropeça nelas e tem que estar ali sentindo, de coração, pra poder vê-las. É assim que começo a ver a luz que mencionei no início.

Meu coração dolorido procura abrigo com pressa.

Percebendo cada lágrima se machuca, dói em ondas, em ondas...esse ciclo aperta todo meu corpo como uma camisa de força e me empurra a esboçar uma reação. Instintivamente isso tem que acontecer. Quando quase virando cinzas, quero um soprinho de oxigênio e acho até que mereço. Deus realmente aparece pra que um pequeníssimo ponto de fogo se mantenha aceso.

Viver essa graça (por que não dizer essa palavra) é bonito, é marcante, é reconfortante.

Dá até pra acreditar que sou digna de confiança, amor, respeito, afeição.

Deus, obrigada por essa chance!

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Meus muros

Construí muros
Longos, resistentes
Eternos?
Penso como fiz
pra derrubar uns poucos
É, a muito custo já consegui
Não é só querer
Tem que quase morrer
É bem por aí
Quando o limite chega
e fica bem visível, irreversível
Ele é o algoz e talvez o salvador
Quero respirar, quero mais uma chance
Aí é que talvez encontre
Uma nova paisagem
Que preciso ainda percorrer, reconhecer
Me sentir dentro dela
Descobrir novamente
como não deixar os muros serem tão imponentes assim.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Temperatura da Relação

Confesso-me uma pessoa cansada de ver e ouvir tantos diagnósticos prontos, tantos veredictos, tantas verdades absolutas a respeito das relações humanas. Logo essas, que enchem os consultórios de psicologia, as universidades de psiquiatria e afins.
Nada espantoso, se pensarmos que não há nada mais complexo do que nós, essa raça dominante, dotada de inteligência de desconhecidos limites... conviver é preciso, desde o nascimento, desde sempre. Família, primeira escola, vizinhança, trabalho, ruas, não importa. Desejamos ardentemente estar com alguém por quem sentimos amor, fazemos filhos! Esse estar com alguém pode ser durante pouco ou muito tempo, dividindo o mesmo teto ou não. Mas há de haver minimamente momentos de comunicação, de envolvimento, de repartir, de trabalhar juntos, de pedir ajuda e contar com ela. Cada qual trazendo sua própria história de vida, seus vícios, suas famílias, enfim, aquele pacote. Pronto, o caldeirão de emoções está borbulhando ali pra gente administrar. Nada mais dífícil na vida.
Às vezes com um aroma delicioso, aparentando lindos matizes, uma mistura de textura perfeita e paladar agradável, leve... outras, deixando um gosto muito amargo na boca, quente ou fria demais, passando do ponto ou nunca chegando a ele, ahhhhhhhhh!!
De que forma mexemos essa massa que temos no nosso caldeirão particular?
Só sei que acho um saco ficar ouvindo a todo momento análises tão frias quanto as sentenças conseqüentes sobre como está a relação dos casais. E uma palavra foi uma descoberta muito "profunda" pra definir isso: morna/o. "Aquela nossa amiga? Não, ela não vai agüentar o namorado..a vida deles tá muito morna"... ou "Ah, aquele casamento tem 15 anos, tá muito morno, não dá mais"...ou "Eles terminaram, é? Eu sabia, eu via que tava tudo muito morno"...
Mas o que é isso? Morno significa tépido, pouco quente, sem energia. E....?
Acho que a gente tem que dar um tempo nessa chatice, tem que ver que ao longo da manutenção de uma vida a dois, estamos nos refletindo o tempo inteiro. Batendo de frente com um turbilhão de acontecimentos particulares e que esses trasformam constantemente cada um individualmente e fatalmente enquanto membro de um casal. Dependemos diretamente de todas as nossas vivências pra estarmos de algum jeito x, y, z, com a nossa própria pessoa e com quem dividimos a vida. Como se pode, então, estar sempre de um modo só?? Como alcançar essa proeza do quente como ideal? Do quente sempre 100% integração de sentimentos, de erotismo, de trabalho, de energia.... bela falácia!
Acredito, sim, que a gente deva estar sempre buscando o outro. Buscar a parceria, a amizade, o amor. E acho que isso só é viável pra aqueles que têm uma palavrinha mágica no modo de viver: INTERESSE. Se a gente tem interesse no parceiro, se a gente ama de verdade, tem que olhar nos olhos. Sentir o que o outro sente, tentar com que ele sinta o mesmo por nós. Abraçar, estar junto, tentar ouvir mesmo o que for mais difícil e falar sobre si, se revelar. Comungar do emso amor. Amor esse que cada um desenvolve de seu modo, transmite de seu modo, mas que possa levar os dois pra um enlace que apóia. Que permite idas e vindas, silêncio e barulho, festa e quietude, loucura e lucidez... que permite o quente, o morno, o frio. O que estiver possível para cada um. Nenhuma temperatura se mantém sempre igual. Em nenhum lugar da Terra. Nem no coração da gente.