segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Temperatura da Relação

Confesso-me uma pessoa cansada de ver e ouvir tantos diagnósticos prontos, tantos veredictos, tantas verdades absolutas a respeito das relações humanas. Logo essas, que enchem os consultórios de psicologia, as universidades de psiquiatria e afins.
Nada espantoso, se pensarmos que não há nada mais complexo do que nós, essa raça dominante, dotada de inteligência de desconhecidos limites... conviver é preciso, desde o nascimento, desde sempre. Família, primeira escola, vizinhança, trabalho, ruas, não importa. Desejamos ardentemente estar com alguém por quem sentimos amor, fazemos filhos! Esse estar com alguém pode ser durante pouco ou muito tempo, dividindo o mesmo teto ou não. Mas há de haver minimamente momentos de comunicação, de envolvimento, de repartir, de trabalhar juntos, de pedir ajuda e contar com ela. Cada qual trazendo sua própria história de vida, seus vícios, suas famílias, enfim, aquele pacote. Pronto, o caldeirão de emoções está borbulhando ali pra gente administrar. Nada mais dífícil na vida.
Às vezes com um aroma delicioso, aparentando lindos matizes, uma mistura de textura perfeita e paladar agradável, leve... outras, deixando um gosto muito amargo na boca, quente ou fria demais, passando do ponto ou nunca chegando a ele, ahhhhhhhhh!!
De que forma mexemos essa massa que temos no nosso caldeirão particular?
Só sei que acho um saco ficar ouvindo a todo momento análises tão frias quanto as sentenças conseqüentes sobre como está a relação dos casais. E uma palavra foi uma descoberta muito "profunda" pra definir isso: morna/o. "Aquela nossa amiga? Não, ela não vai agüentar o namorado..a vida deles tá muito morna"... ou "Ah, aquele casamento tem 15 anos, tá muito morno, não dá mais"...ou "Eles terminaram, é? Eu sabia, eu via que tava tudo muito morno"...
Mas o que é isso? Morno significa tépido, pouco quente, sem energia. E....?
Acho que a gente tem que dar um tempo nessa chatice, tem que ver que ao longo da manutenção de uma vida a dois, estamos nos refletindo o tempo inteiro. Batendo de frente com um turbilhão de acontecimentos particulares e que esses trasformam constantemente cada um individualmente e fatalmente enquanto membro de um casal. Dependemos diretamente de todas as nossas vivências pra estarmos de algum jeito x, y, z, com a nossa própria pessoa e com quem dividimos a vida. Como se pode, então, estar sempre de um modo só?? Como alcançar essa proeza do quente como ideal? Do quente sempre 100% integração de sentimentos, de erotismo, de trabalho, de energia.... bela falácia!
Acredito, sim, que a gente deva estar sempre buscando o outro. Buscar a parceria, a amizade, o amor. E acho que isso só é viável pra aqueles que têm uma palavrinha mágica no modo de viver: INTERESSE. Se a gente tem interesse no parceiro, se a gente ama de verdade, tem que olhar nos olhos. Sentir o que o outro sente, tentar com que ele sinta o mesmo por nós. Abraçar, estar junto, tentar ouvir mesmo o que for mais difícil e falar sobre si, se revelar. Comungar do emso amor. Amor esse que cada um desenvolve de seu modo, transmite de seu modo, mas que possa levar os dois pra um enlace que apóia. Que permite idas e vindas, silêncio e barulho, festa e quietude, loucura e lucidez... que permite o quente, o morno, o frio. O que estiver possível para cada um. Nenhuma temperatura se mantém sempre igual. Em nenhum lugar da Terra. Nem no coração da gente.

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